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Notícias > 12.07.18

CHAMADA REVISTA VAZANTES | VOL 2 N. 2

A Vazantes – Revista do Programa de Pós-Graduação em Artes da UFC, convida propostas de artigos, ensaios, ensaios visuais, escritas experimentais, entrevistas, resenhas, experimentações artísticas, intervenções e demais formatos de contribuição bibliográfica e não-bibliográfica para seu novo número: Vazantes v. 2. n. 2; Outubro/Dezembro de 2018.  Dossiê: Políticas do Sensível: Sensorialidades, Sensualidades, Corporeidades. PRAZO DE SUBMISSÃO: 15 […]

A Vazantes – Revista do Programa de Pós-Graduação em Artes da UFC, convida propostas de artigos, ensaios, ensaios visuais, escritas experimentais, entrevistas, resenhas, experimentações artísticas, intervenções e demais formatos de contribuição bibliográfica e não-bibliográfica para seu novo número: Vazantes v. 2. n. 2; Outubro/Dezembro de 2018.  Dossiê: Políticas do Sensível: Sensorialidades, Sensualidades, Corporeidades.

PRAZO DE SUBMISSÃO: 15 Setembro de 2018

Sobre a Vazantes: http://periodicos.ufc.br/vazantes/about
Vol. 1 N. 1: http://periodicos.ufc.br/vazantes/issue/view/566
Vol. 1 N. 2: http://periodicos.ufc.br/vazantes/issue/view/567
Vol. 2 N. 1: http://periodicos.ufc.br/vazantes/issue/view/568

Dossiê Políticas do Sensível: Sensorialidades, Sensualidades, Corporeidades

Ao herdar modelos culturais, epistemológicos e ontológicos do humanismo e seus projetos de expansão política e colonial, as sociedades ocidentais e capitalistas modernas vêm declarando uma guerra sistemática aos corpos e à própria vida. É na modernidade que vemos emergir o homem identitário, cindido pelo abismo entre o eu e o mundo. Esse sujeito moderno define-se pela presença soberana de uma consciência pensante que se ergue na ausência (ou ignorância) de um corpo sensível aos atravessamentos com o mundo e sua alteridade. Neste contexto, o pensamento lógico se edifica sobre a crescente perda do mundo e suas intensidades, cores, texturas, mobilidades, incertezas e surpresas. Juntamente ao projeto cartesiano, vemos emergir uma visão dual e hierarquizante de mundo fundamental à construção e sustentação do sistema em que vivemos, ainda nos dias atuais, e a partir do qual representamos e damos sentido às nossas práticas cotidianas, falas e relações. Seguimos reproduzindo dicotomias: cultura-natureza; homem-mulher; homem-animal; mente-corpo; ciências naturais-ciências humanas; razão-sensação; inteligência-sensibilidade; mecanismo-vitalismo; forma-matéria, entre outras. Estas oposições binárias definem o corpo enquanto elemento conectado com a natureza e a animalidade, possuindo qualidades organicistas. Foi o cartesianismo que abriu caminho para o aparecimento da metáfora corpo-máquina. O corpo passou a ser visto como uma máquina ou um dispositivo mecânico que funciona como um autômato de acordo com leis causais da natureza, retirando dele toda dimensão sensível, sensual e estética como modo próprio de conhecimento. A partir de então, é dada ao sujeito a condição objetiva e impessoal de refletir sobre o mundo, os corpos, os objetos e demais seres. Podemos afirmar que, neste contexto, o homem perde a experiência.

Iniciada em fins do século XIX e intensificada ao longo do século XX, a crise do sujeito moderno no Ocidente se fez visível em diversos campos – políticos, sociais, antropológicos, filosóficos e artísticos. Neste cenário, o corpo passa a ganhar um novo estatuto. Críticos ao projeto racionalista da modernidade, pensadores e artistas como Antonin Artaud, Friedrich Nietzsche, Rudolf von Laban, Sigmund Freud, Maurice Merleau-Ponty, Marcel Mauss, entre tantos outros, reivindicaram a busca pela redescoberta do corpo. Freud e sua proposta inovadora de psicanálise nos revelava a fragilidade da consciência racional a partir do inconsciente, cuja teorização dependeu naquele momento do escrutínio dos corpos sensíveis das chamadas “histéricas”. Antonin Artaud trouxe para a cena teatral a evocação do Corpo sem Órgãos, evidenciando para a arte e a filosofia uma violência institucionalizada na cultura e na própria vida, contra a qual o dramaturgo se rebelava ao criticar a cena logocêntrica europeia. A fenomenologia de Merleau-Ponty propôs a noção de “corpo próprio”, evidenciando o corpo sensível a partir das ideias em torno do corpo percebido e vivido. Segundo a psicanalista Suely Rolnik, a partir da fenomenologia operou-se um movimento de superação do idealismo transcendente em busca da reconquista do mundo, mas Merleau-Ponty manteve ainda em primeiro plano um sujeito carregado de intencionalidade diante dos objetos do mundo (ROLNIK, “Molda-se uma alma contemporânea: o vazio-pleno de Lygia Clark”, 8). A fenomenologia vai além do organismo, entidade meramente biológica, mas mantém-se ainda circunscrita no âmbito de um indivíduo centralizador, com suas percepções e sentimentos próprios. Numa direção pós-fenomenológica, Gilles Deleuze e Félix Guattari ressaltam além do corpo organismo e do corpo próprio a existência de um plano de forças que faz passar intensidades qualitativas, gradientes e limiares, tendências dinâmicas com mutação e circulação de energia, uma verdadeira rede móvel e instável de forças e não de formas, evidenciando a dimensão intensiva dos corpos.

Ainda entre os séculos XIX e XX vemos emergir nos países do norte europeu e nos Estados Unidos o advento do Movimento Corporalista, que mais tarde veio a ser designado por Educação Somática. Diversos pesquisadores desenvolveram técnicas, práticas e métodos corporais pautados em uma semelhante abordagem do complexo corpo-mente envolvendo domínios como o sensorial, o cognitivo, o motor e o afetivo (FORTIN, “Educação somática: novo ingrediente da formação prática em dança”, 40). Dentro deste campo de conhecimento, a matéria corpórea passou a ser matéria prima para a construção de um conhecimento de si e do mundo. A partir de um exercício de alargamento sensório-perceptivo, estas práticas somáticas atuam como propositoras de uma experiência de abertura à criação de um corpo “outro”, expandindo os limites de suas organizações demasiadamente condicionadas em automatismos cristalizantes. De um modo geral, as práticas somáticas convidam o corpo a exercitar os sentidos fora do regime restrito da representação. Assim, a partir de um convite à experimentação dos sentidos no âmbito prismático das sensações, o corpo tem a oportunidade de experienciar o mundo e a si mesmo para além da representação de corpos, objetos e signos já dados.

Ao levar em consideração a crescente qualidade de pesquisas de pós-graduação em artes tomadas por questões que aprofundam as relações entre corporeidade e experiência, bem como uma atenção mais afiada aos novos processos de corporificação (embodiment), a Revista Vazantes prepara um dossiê especial para o qual recebe artigos, ensaios visuais e resenhas de livros e de obras de arte que tratem destas questões, bem como outras relacionadas às Políticas do Sensível: Sensorialidades, Sensualidades, Corporeidades.

Possíveis temas de interesse para este número incluem:

  • Do somático ao social: mediações
  • Antropologia dos sentidos corporais
  • A dimensão histórica e epistemológica da sensualidade
  • (I)Lógicas da sensação
  • Estudos em inconsciente óptico
  • Estudos em inconsciente sônico
  • Arte, experiência e corporeidade
  • Food art
  • Dança, sinestesia e discurso (ou para além dele)
  • Raça, gênero e sexualidade como dimensões sensíveis
  • Meio associado: iterações
  • Pós-fenomenologia e arte
  • Cognição encorporada e enação
  • Educação somática como metodologia de pesquisa do sensível
  • Eco-feminismo e políticas do sensível
  • Micropolítica, práticas somáticas e os saberes da experiência
  • Eco-somática
  • Corporeidades ancestrais e ecosofia

A Revista Vazantes é uma publicação semestral vinculada ao Programa de Pós-Graduação em Artes, do Instituto de Cultura e Artes, da Universidade Federal do Ceará.

Normas de submissão de propostas: http://periodicos.ufc.br/vazantes/about/submissions#onlineSubmissions

Propostas, dúvidas e conversas sobre este número, favor endereçar para: revistavazantes@gmail.com

PRAZO FINAL PARA SUBMISSÃO: 15 de Setembro de 2018

Equipe Editorial:
Pablo Assumpção (Coordenador Editorial)
Patrícia de Lima Caetano (Editora)
Deisimer Gorczevski (Editora)